
Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
1 de out.



Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
15 de set.













Confesso: não consigo deixar de sorrir quando oiço o rugido de um motor clássico a despertar numa manhã de domingo. Há algo de quase poético na forma como um automóvel antigo se move, com o cheiro a gasolina crua e a elegância mecânica de uma era em que a condução era um ritual. E sei que não estou sozinho — basta olhar para o entusiasmo com que os portugueses acorrem a encontros de clássicos, concentrações de desportivos e icónicos modelos e eventos de competição histórica por todo o país.
Mas, ao mesmo tempo, não consigo ignorar outra realidade: o planeta está a cobrar a factura. As metas de descarbonização apertam, as cidades começam a impor restrições severas aos veículos poluentes, e a pressão para electrificar a mobilidade é cada vez mais intensa. Entre o ronco nostálgico de um motor a combustão e o zumbido quase silencioso de um motor eléctrico, Portugal parece viver um dilema cultural e ambiental que ninguém quer verdadeiramente enfrentar de frente.
A cultura automóvel faz parte da nossa identidade. Desde as míticas corridas nos Circuitos de Vila Real e Vila do Conde, às lendas que passaram pelo Autódromo do Estoril, até aos clubes locais que mantêm viva a história sobre rodas, o automóvel sempre foi mais do que transporte — foi símbolo de liberdade, progresso e até de afirmação social.
Ignorar isso seria um erro. Não se apaga uma paixão com legislação. Mas também não podemos continuar a viver como se o setor automóvel não tivesse de mudar — porque tem, e rapidamente.
Nos últimos anos, temos visto uma aposta crescente em mobilidade eléctrica, com incentivos públicos e campanhas que quase tratam os veículos de combustão como peças de museu condenadas à extinção. É um caminho necessário, mas não pode ser o único.
Segundo dados da Agência Europeia do Ambiente, os transportes representam cerca de 25% das emissões de gases com efeito de estufa na União Europeia, e em Portugal esse valor é ainda mais elevado, ultrapassando os 30%. Precisamos de reduzir este número, sim — mas precisamos também de o fazer sem apagar a memória e o património que o automóvel representa para nós.
Acredito que o caminho está no meio-termo: preservar o automóvel como cultura, mas enquadrá-lo num ecossistema sustentável. Isso passa por soluções como os combustíveis sintéticos e biocombustíveis para veículos clássicos, a criação de zonas e calendários específicos para circulação de históricos, e o incentivo à conversão eléctrica de modelos antigos que já não tenham valor patrimonial intocável.
E, sobretudo, passa por educar — mostrar que é possível gostar de carros e, ao mesmo tempo, preocupar-se com o planeta. Que o futuro da mobilidade não precisa de anular o passado; pode aprender com ele.
Portugal tem tudo para ser um exemplo de conciliação: temos tradição, temos paixão e temos uma nova geração que valoriza tanto a história como a sustentabilidade. O que falta é coragem política e criatividade industrial para ligar estes dois mundos sem os pôr em guerra.
Porque, no fundo, o verdadeiro amor pelos automóveis não está no combustível que ardem — está nas histórias que contam. E essas, se fizermos as escolhas certas agora, podem continuar a ser contadas nas próximas décadas… sem culpa.
💭 Queremos ouvir a sua voz:
Acha que Portugal pode preservar a cultura automóvel e, ao mesmo tempo, ser sustentável?
Deixe a sua opinião nos comentários! 👇
Artur Semedo - Editor Publiracing
👉 “A Revista Publiracing acredita em jornalismo isento, relevante e de qualidade. Se também valoriza informação independente, considere apoiar o nosso trabalho.”































Comentários