Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
1 de out.


Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
15 de set.









Do Abarth 600e Scorpionissima aos 4x4 extremos, conheça os tipos e funções deste componente essencial
O diferencial é, muitas vezes, o elemento mais subestimado, mas absolutamente vital, na mecânica de qualquer veículo. Em termos simples, é o componente que permite que as rodas do mesmo eixo girem a velocidades diferentes – uma necessidade física incontornável sempre que um automóvel descreve uma curva. No entanto, dependendo se conduzimos um citadino económico, um SUV robusto ou um hot-hatch elétrico como o Abarth 600e Scorpionissima, o tipo de diferencial utilizado assume um papel estratégico.
A nossa experiência recente ao volante do Abarth 600e Scorpionissima, equipado com um diferencial Torsen, fez-nos refletir sobre como esta tecnologia evoluiu e qual o seu papel crucial na performance e segurança. Preparamos aqui um guia detalhado sobre os tipos de diferenciais mais utilizados no panorama automóvel atual, desde o mais comum ao mais tecnológico.
Mas afinal, o que é um diferencial e por que razão há tantos tipos diferentes? Mais do que um simples conjunto de engrenagens, o diferencial é o componente que torna possível o movimento suave e controlado das rodas motrizes, ajustando-se às diferenças de velocidade entre elas em curva ou em superfícies com aderência desigual.
Sem o diferencial, um carro literalmente “lutaria contra si próprio” ao virar, forçando pneus e transmissões. Contudo, conforme o tipo de veículo — citadino, desportivo, SUV ou todo-o-terreno —, o tipo de diferencial muda completamente o seu comportamento em estrada e fora dela.
Em qualquer automóvel, o diferencial tem duas funções fundamentais:
Distribuir o binário (torque) proveniente do motor entre as rodas motrizes.
Permitir que cada roda gire a velocidades diferentes, especialmente em curva.
Sem este mecanismo, a roda interior — que percorre um arco menor — derraparia ou travaria o movimento da exterior, gerando desgaste e instabilidade. O tipo de diferencial utilizado define como e quanto essa diferença é permitida ou controlada.

O diferencial aberto é a forma mais básica e mais comum de diferencial, encontrado na grande maioria dos automóveis utilitários e familiares (em Portugal, nos modelos mais populares da Dacia, Renault, Hyundai, etc.).
Função: Permite que as rodas girem a velocidades distintas em curva.
Aplicação: Veículos de uso diário, com foco em conforto, baixo custo e eficácia em estrada pavimentada.
A Grande Limitação: O sistema envia a maioria do binário para a roda com menor aderência. Isto é um problema em pisos escorregadios (gelo, lama ou areia), pois a roda que patina recebe toda a potência, enquanto a roda com tração fica imóvel.
O LSD é uma evolução direta do diferencial aberto, desenvolvido para mitigar a sua principal falha. O seu objetivo é limitar a diferença de velocidade entre as duas rodas, garantindo que alguma potência seja sempre transmitida à roda com maior tração.

O Torsen (Torque-Sensing) é o exemplo mais puro de um LSD mecânico, utilizado no nosso Abarth 600e Scorpionissima.
Qualidade Individual: É um diferencial sensível ao binário, que utiliza engrenagens helicoidais e de parafuso sem-fim. Não requer eletrónica, bombas ou discos de embraiagem para funcionar.
Aplicação: Carros desportivos FWD de alta performance (como o Abarth), onde a resposta instantânea e o "sentimento" mecânico são valorizados.
Vantagem no Abarth 600e: Com 280 CV a atuar no eixo dianteiro, o Torsen é vital. Garante que, ao sair de uma curva em aceleração máxima, o binário não se perca em fumo (patinagem da roda interior), mas seja transferido para a roda exterior (com mais tração), resultando numa saída de curva mais rápida e precisa – algo que comprovámos nos nossos testes.

São usados em muitos desportivos de tração traseira e tração integral, como nos BMW M.
Qualidade Individual: Usam conjuntos de embraiagens e molas. A percentagem de bloqueio pode ser ajustada, permitindo que a performance seja afinada para diferentes tipos de desempenho.
Aplicação: Desportivos e de utilização em drift, de pista, e veículos off-road de alta exigência.
A eletrificação e a gestão sofisticada da dinâmica do veículo trouxeram sistemas que simulam ou controlam ativamente a distribuição de potência
É a solução mais comum em carros desportivos e crossovers modernos (como alguns Peugeot ou modelos do Grupo VW), e que compete diretamente com a filosofia mecânica do Torsen.
Função: Utiliza o Controlo Eletrónico de Estabilidade (ESC) e os travões. Quando uma roda começa a patinar, o sistema trava ligeiramente essa roda.
Qualidade Individual: É uma solução leve e barata que simula o efeito de um LSD. Ajuda o carro a "apertar" a curva ao travar a roda interior.
Aplicação: Automóveis desportivos e crossovers que privilegiam a segurança e a integração com o ESC.
Encontrados em modelos de luxo e alta performance (ex: Audi RS), estes usam um pack de embraiagens e um atuador eletrónico para pré-definir a percentagem de bloqueio de forma contínua e em tempo real, baseada em dados como o ângulo da direção e a aceleração.
Vantagem: Permite que o diferencial seja agressivo em pista e suave em autoestrada, alterando-se em milissegundos.

Em veículos 4x4 puros, a capacidade de tração é tudo.
Bloqueio Total do Diferencial (Locking Differential): Usado em veículos off-road extremos (como o Jeep Wrangler ou Land Rover Defender). Estes sistemas forçam a ligação rígida das duas rodas do eixo, fazendo-as girar à mesma velocidade, independentemente da tração. É uma solução indispensável para sair de situações de axle articulation onde uma roda perde todo o contacto com o solo.
O facto de a Abarth ter escolhido o Diferencial Mecânico Torsen para gerir os 280 CV do 600e Scorpionissima sublinha que, mesmo na era elétrica, a marca não abdica da precisão mecânica e da resposta visceral que definem um verdadeiro veículo desportivo. É a tecnologia que transforma a potência em eficácia e que nos permitiu extrair o máximo prazer de condução deste hot-hatch elétrico.
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