
Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
1 de out.













Enquanto híbridos consolidam a liderança e elétricos aceleram em quota, os dados da ACEA mostram vencedores claros — com forte avanço de marcas chinesas — e perdas expressivas em alguns nomes tradicionais no mercado europeu.
As matrículas de automóveis novos na União Europeia cresceram 1,4% entre janeiro e novembro de 2025, num mercado que mantém sinais de recuperação, mas continua abaixo dos volumes pré-pandemia. A leitura do ano até novembro confirma, sobretudo, uma mudança estrutural: híbridos são a escolha dominante, elétricos a bateria ganham quota de forma consistente e gasolina e Diesel recuam para um peso combinado cada vez menor.
De acordo com a ACEA, os BEV (100% elétricos) atingiram 16,9% de quota no acumulado do ano (13,4% no mesmo período de 2024), os HEV (híbridos) ficaram em 34,6%, e os PHEV (híbridos plug-in) subiram para 9,3%. Em sentido inverso, a quota conjunta de gasolina e diesel desceu para 36,1% (45,8% um ano antes).
No mês de novembro, o salto dos elétricos foi particularmente visível: BEV +44,1% e PHEV +38,4% em variação homóloga, enquanto os híbridos cresceram +4,2%. Já a gasolina e o diesel recuaram -21,9% e -23,2%, respetivamente.
No acumulado (jan-nov), a queda dos combustíveis tradicionais é ainda mais marcante: gasolina -18,6% e diesel -24,4%, com contrações fortes nos grandes mercados. A França lidera a descida da gasolina (-32,1%), seguida de Alemanha (-22,4%), Itália (-17,4%) e Espanha (-14,6%).

A dinâmica do elétrico concentra-se nos maiores mercados. Entre janeiro e novembro, os BEV cresceram para 1.662.399 unidades e quatro países — responsáveis por cerca de 62% dos BEV — avançaram todos: Alemanha (+41,3%), Bélgica (+10,2%), Países Baixos (+8,8%) e França (+9,1%).
Nos híbridos, a subida para 3.408.907 unidades foi sustentada por ganhos nos quatro grandes: Espanha (+26%), França (+24,2%), Alemanha (+8,7%) e Itália (+7,9%). Já os PHEV ( 912.723 unidades ) cresceram com especial força em Espanha (+113%), Itália (+80,6%) e Alemanha (+62,7%).
A tabela por fabricante da ACEA permite ver o “jogo de forças” do mercado — e aqui há uma leitura central: os grandes grupos continuam a liderar em volume, mas os ganhos mais explosivos estão fora dos nomes tradicionais.
Volkswagen Group: +5,0% (2.731.077 unidades), reforçando presença num mercado de crescimento moderado.
Renault Group: +6,5% (1.121.851), com a marca Renault a crescer +6,9% e a Dacia +5,2%.
BMW Group: +6,1% (692.818), sustentado por crescimento tanto de BMW como de Mini.
Stellantis: -5,5% (1.540.950), um recuo relevante num grupo com forte exposição ao segmento generalista e maior sensibilidade ao ciclo económico.
Toyota Group: -6,0% (728.777), com Toyota -6,5% e Lexus a manter ligeira subida (+1,1%), sinalizando um desempenho mais resiliente no premium.
Hyundai Group: -3,8% (737.805), com descidas mais evidentes na Kia (-6,0%) do que na Hyundai (-1,6%).
A nível de marcas, 2025 até novembro expõe dois fenómenos em paralelo: a explosão de alguns “novos players” (em particular, China) e quedas acentuadas em marcas com forte dependência de um único eixo de procura.
BYD: +240,0% (110.715) — a subida mais expressiva do quadro, mostrando aceleração rápida de penetração.
Cupra: +37,4% (228.366) — crescimento forte, acima do ritmo do mercado, e reforço dentro do universo VW.
SAIC Motor: +39,4% (191.043) — outro sinal do impulso chinês, com ganhos em volume e quota.
Alfa Romeo: +33,5% (51.422) — evolução relevante dentro da Stellantis, contrastando com o recuo generalizado dentro do grupo.
Honda: +11,9% (41.231) — crescimento sólido, embora a partir de base menor.
Škoda: +10,0% (664.142) — uma das maiores contribuições orgânicas para o resultado positivo do VW Group.
Tesla: -38,8% (129.024) — uma das quedas mais relevantes entre marcas com volume significativo.
Volvo Cars: -15,7% (217.309) — recuo expressivo num período em que a eletrificação global avança.
Mitsubishi: -26,2% (38.936) — contração pronunciada.
Porsche: -16,4% (62.011) — descida que sugere maior sensibilidade do segmento ao contexto macro e ao ciclo de produto.
SEAT: -15,4% (173.910) — queda dentro do grupo VW, num ano em que a Cupra cresce fortemente.
Jaguar: -82,4% (934) e Jaguar Land Rover Group -16,1% (48.830) — números que refletem transformação profunda, mesmo com base reduzida, e com impacto estatístico muito visível.

Com HEV a liderar e PHEV a ganhar ritmo, o consumidor europeu parece estar a privilegiar soluções de transição. Já o BEV cresce, mas a própria ACEA nota que a quota atual ainda deixa margem para crescer em relação ao ritmo necessário para uma transição 100% elétrica.
A curto prazo, o relatório aponta para uma Europa em que:
a queda de gasolina/diesel continuará a reconfigurar o mix;
os grupos tradicionais terão de defender quota com estratégias multi-energia;
e o avanço chinês tende a tornar-se o principal fator de pressão competitiva — sobretudo em segmentos onde preço, equipamento e rapidez de renovação contam mais do que legado.
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