
Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
1 de out.



Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
15 de set.













Há uma frase que ouço com frequência — em conversas, ou comentários online: “O carro elétrico não compensa.”
É quase um mantra urbano, repetido com convicção por quem olha para o preço de compra, os custos de carregamento ou simplesmente a incerteza ou desconhecimento da tecnologia. Mas eis que um novo estudo vem mudar, ou pelo menos desafiar, essa perceção.
Segundo dados divulgados esta semana, os veículos elétricos (BEV) em Portugal passam a emitir menos CO₂ cumulativamente do que os carros a gasolina ao fim de cerca de dois anos de utilização. Depois desse ponto de viragem, a vantagem ambiental cresce de forma constante.
Pode parecer um detalhe técnico — afinal, “dois anos” soam a pouco —, mas esta diferença é profundamente simbólica. Ela desmonta um dos argumentos mais persistentes contra a mobilidade elétrica: o de que “o carro polui mais para ser fabricado do que depois para andar”. É verdade que a produção de um veículo elétrico, principalmente das suas baterias, exige mais energia e matérias-primas. No entanto, o que este estudo mostra é que a conta fecha — e fecha mais cedo do que muitos imaginavam.
Durante muito tempo, o debate sobre sustentabilidade automóvel foi reduzido a uma espécie de duelo moral entre o “velho motor a combustão” e o “novo salvador elétrico”. Só que o tema é bem mais complexo. A pegada ambiental de um carro depende não apenas da forma como é fabricado, mas também de como é usado, onde é carregado e a origem da energia para seu carregamento.
Portugal, por exemplo, está entre os países europeus com maior percentagem de eletricidade proveniente de fontes renováveis. Isso significa que, ao contrário de outras regiões onde a energia ainda é muito dependente do carvão ou do gás natural, o carro elétrico português polui efetivamente menos durante a sua vida útil — e essa diferença cresce à medida que a rede elétrica se torna mais verde.
A ideia de que “o carro elétrico nunca compensa” não resiste, portanto, a uma análise de ciclo de vida completa. E talvez esteja na hora de reformularmos a pergunta: compensa para quem e em que contexto?

Para a indústria automóvel, esta constatação traz tanto alívio quanto responsabilidade. Se o elétrico é comprovadamente mais limpo a médio prazo, as marcas deixam de ter desculpas para adiar o avanço da eletrificação, seja em volume de produção, oferta de modelos ou acessibilidade. Mas o problema não está apenas na fábrica — está também nas ruas, nas políticas e na mentalidade coletiva.
Mas também aí Portugal parece estar andando no passo correto, já que 30% das matriculas novas do mês de Setembro foram de veículos 100% elétricos (BEV). A realidade, ou boa notícia, é que em Portugal, o elétrico é cada vez menos percebido como carro de nicho, antes limitado por preço, autonomia e infraestrutura. As vendas já mostram o contrário, mesmo sabendo que muito desse resultado é fruto de vendas para empresas e suas frotas.
Ora, se os dados científicos confirmam o seu benefício ambiental, cabe ao poder público incentivar a renovação da frota, investir e fomentar a ampliação em redes de carregamento, e criar incentivos reais para o mercado de usados elétricos, que ainda engatinha.
Porque sim, o futuro elétrico depende tanto de quem fabrica como de quem compra — mas principalmente, das politicas de governo e municipais.
Para o condutor português médio, que percorre cerca de 12 mil quilómetros por ano, a conta ambiental do elétrico começa a equilibrar-se mais rápido do que a financeira. Mas a verdade é que os custos de manutenção e energia já tornam o carro elétrico competitivo a médio prazo — e agora, com dados de emissões claros, até a consciência pesa menos.
Continuar a dizer que “não compensa” é ignorar a evolução da tecnologia, da rede elétrica e das próprias cidades. E enquanto discutimos, as marcas, os políticos e os consumidores mais atentos já estão a agir. O elétrico deixou de ser uma promessa distante: é uma realidade mensurável, com números e benefícios concretos.
Afinal, o que realmente não compensa é continuar preso a ideias de 2015 num mundo que já vive em 2025.
Como jornalista e observador diário da mobilidade, vejo o debate mudar de tom — finalmente com base em factos e não apenas em perceções. E se há algo que este estudo confirma é que a transição elétrica não é apenas um gesto ecológico, é uma decisão racional.
Da próxima vez que ouvir alguém dizer que o carro elétrico não compensa, pergunte: “com base em quê?” Porque hoje, os números respondem sozinhos.
Artur Semedo / Editor PUBLIRACING
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