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Arquitetura 800 V nas baterias de veículos eléctricos: o que é, por que importa e quais os desafios

  • Foto do escritor: Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
    Artur Semedo - artur.semedo@publiracing.pt
  • há 2 dias
  • 5 min de leitura

Atualizado: há 1 dia


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Esta semana, recebemos na redação do Publiracing Portugal o Smart #5 Summit Edition, um modelo que marca não apenas pela estética ousada e pelo posicionamento premium, mas também por uma característica técnica que merece atenção: a sua arquitetura elétrica de 800 V. Este detalhe, invisível a olho nu, representa um salto tecnológico que começa a diferenciar os veículos elétricos mais avançados do mercado.


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É, de facto, o primeiro automóvel a visitar a nossa redação com esta configuração, e isso despertou em nós a curiosidade de ir além do ensaio de condução. A presença do Smart #5 é uma oportunidade perfeita para explicar o que significa esta arquitetura de alta voltagem, como se distingue das plataformas mais comuns de 400 V e quais as suas implicações práticas no dia a dia dos utilizadores.


Mais do que um número ou um argumento de marketing, os 800 V são um elemento-chave para viabilizar carregamentos ultrarrápidos, maior eficiência energética e até melhorias na engenharia do próprio veículo. Neste artigo, usamos o Smart #5 como ponto de partida para aprofundar o tema e perceber o que está em causa quando falamos na “nova fronteira” das baterias de veículos elétricos.


O que significa “arquitetura 800 V”?

Quando falamos que um veículo elétrico usa uma arquitetura de 800 volts, estamos nos referindo à tensão nominal do banco de baterias/sistema de tração elétrica. Ou seja:

  • Em vez de sistemas mais convencionais com 400 V (ou valores similares entre 300-500 V) para todo o conjunto elétrico (bateria, inversor, motor, fiação), o sistema “800 V” dobra essa tensão nominal.

  • Para manter a mesma potência (P = V × I), um sistema de 800 V consegue gerar a mesma potência com correntes menores (I) — o que traz vantagens elétricas e térmicas.

  • Em geral, isso exige que os módulos de bateria sejam organizados em mais células em série — para atingir a tensão mais elevada — e que os componentes elétricos (inversor, disjuntores, condutores, conectores) sejam dimensionados para lidar com essa tensão mais adequada.

Ou seja: é uma “elevação” da arquitetura elétrica do veículo, não apenas um aditivo isolado.


Vantagens da arquitetura 800 V

Os defensores dos sistemas de 800 V apontam várias vantagens técnicas que podem trazer benefícios reais ao veículo e ao usuário final:

Vantagem

Por que ocorre

Benefício prático

Carregamento muito mais rápido

Como a corrente necessária para uma dada potência é menor, há menor aquecimento nos cabos e perdas menores por resistência (I²R)

Em uma estação rápida DC de alta potência, pode-se carregar de 10 % a 80 % em tempos significativamente menores — 18 minutos apenas como exemplo de carga rápida com 800 V o já mencionado smart #5

Redução de perdas elétricas

Menor corrente nos cabos significa menor dissipação de calor (as perdas resistivas caem com o quadrado da corrente)

Melhor eficiência geral do sistema elétrico, menos necessidade de superdimensionamento de cabeamento e menor necessidade de resfriamento intenso

Possibilidade de usar condutores mais finos / menos cobre

Como a corrente é mais baixa para a mesma potência, os cabos e condutores podem ser dimensionados de forma mais otimizada

Menor massa dos cabos, menos volume e custo de material de cobre

Menor aquecimento em operações intensas

Sob altas demandas (potência elevada), o sistema em 800 V pode manter melhor o desempenho térmico do que arquiteturas de menor tensão

Menor risco de limitação térmica, maior sustentação de potência máxima por mais tempo

Potencial para modularidade e escalabilidade futura

Em projetos futuros, arquiteturas de alta tensão podem facilitar expansões, conversores bi-direcionais ou trocas de módulos

Maior flexibilidade para evolução da plataforma


Essas vantagens fazem com que muitos veículos de próxima geração já usem 800 V ou considerem essa migração.


Imagem meramente ilustrativa para observar a diferença entre os dois sistemas
Imagem meramente ilustrativa para observar a diferença entre os dois sistemas

Desafios e considerações técnicas

Mesmo com os benefícios, não é simples adotar 800 V. Há alguns desafios e pontos de atenção:

Desafio / risco

Detalhes técnicos

Mitigação ou condição necessária

Isolamento elétrico mais exigente

Tensão mais alta requer materiais isolantes superiores, maior espaçamento entre condutores e atenção a descargas elétricas (arcos)

Projetos de engenharia que usem isolantes de alta qualidade, design que evite proximidade excessiva e testes rigorosos

Compatibilidade com infraestrutura de carregamento

Muitas estações DC públicas ainda operam com arquiteturas de 400 V ou tensões moderadas. Se o veículo for 800 V, deve haver compatibilidade (transformadores DC/DC, conversores)

Veículos 800 V frequentemente incluem circuitos que permitem lidar com carregadores de tensão inferior ou usam “step-up / step-down” internos

Custo de componentes

Os inversores, relés, conectores e dispositivos de proteção para 800 V são mais sofisticados e custosos

Escala industrial, padronização e maturidade tecnológica ajudam a reduzir custos com o tempo

Segurança elétrica

Em tensões mais altas, o risco de falhas elétricas, arcos e exposição é maior

Sistemas de proteção adicionais (fusíveis de alta tensão, monitorização de falhas, isolamento redundante)

Limitações práticas de carregadores públicos

Mesmo que o veículo suporte 800 V, a grande maioria dos carregadores ainda não entregam potência ou tensão suficientes para usar plenamente essa vantagem

A rede de carregamento precisa evoluir — até lá, o veículo pode ser “limitado” por infraestrutura

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Aplicações reais atuais

Alguns veículos e plataformas já adotaram ou suportam 800 V:


  • O mencionado smart #5 que visitou nossa redação é um bom exemplo, já que devido à sua origem na joint-venture entre a Geely e a Mercedes-Benz, baseia-se na plataforma modular da Geely, conhecida como Sustainable Experience Architecture (SEA).


    A arquitetura de 800V não é partilhada por todos os carros que usam a plataforma SEA, mas sim pelos modelos de performance e topo de gama, que beneficiam de carregamentos ultrarrápidos e maior eficiência.


  • O Smart #5 compartilha a arquitetura de 800V e a plataforma SEA com alguns dos modelos mais avançados dentro do grupo Geely. Os carros mais notáveis que utilizam esta tecnologia são:

    • Zeekr 001: Foi um dos primeiros veículos do grupo a utilizar a arquitetura SEA completa de 800V.

    • Zeekr 007: Outro modelo da marca de luxo e performance da Geely que utiliza esta arquitetura para carregamentos rápidos.

    • Lotus Eletre: O SUV elétrico de alta performance da Lotus, que também pertence ao grupo Geely, utiliza a plataforma e a tecnologia de 800V.

    • Também a Polestar acaba de anunciar que seu modelo Polestar 3 virá atualizado com arquitetura 800V


    Esses carros demonstram que o Smart #5 está posicionado numa família de veículos que priorizam a tecnologia de ponta, o carregamento ultrarrápido e a performance elétrica.


  • A plataforma E-GMP do Hyundai / Kia também já oferece modelos com 800 V, como o Hyundai Ioniq 5 e Kia EV6.

  • Veículos como o Porsche Taycan exploram arquiteturas de alta tensão para carregar com potências muito altas.


    Fica claro que a adoção de 800 V está se tornando tendência para veículos premium e de performance, podendo se tornar mais comum no médio prazo conforme a infraestrutura acompanhar.


Esses casos reais ajudam a demonstrar que não é “apenas teoria” — a arquitetura já está sendo usada em modelos de produção.


Implicações para o utilizador / consumidor

Para o proprietário ou quem pensa em adquirir um veículo elétrico, entender como a arquitetura elétrica atua pode ajudar a tomar decisões melhores:

  • Se você faz viagens longas com frequência e quer carregamentos rápidos, um carro 800 V pode oferecer vantagem real — mas apenas se a rede de carregamento for compatível.

  • Em mercados onde a infraestrutura ainda é incipiente, a vantagem pode ser menos evidente; o veículo pode operar “de forma limitada” nos carregadores disponíveis.

  • A manutenção e eventual substituição de componentes elétricos em 800 V tende a ser mais cara em início de adoção.

  • A tecnologia 800 V traz mais “reserva de desempenho e eficiência” para o futuro, mas só é plenamente aproveitável com a evolução da rede.


👉 “A Revista Publiracing acredita em jornalismo isento, relevante e de qualidade. Se também valoriza informação independente, considere apoiar o nosso trabalho.”


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3 comentários

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Paulo Jorge
há um dia
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Conteúdo top! Um dos artigos mais completos que já li sobre o tema de arquiteturas de 800 V em baterias

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Pedro Romeiro Porto
há um dia
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Arrisco dizer que esta leitura vai despertar curiosidade até nos mais céticos em relação aos carros elétricos. Parabéns pelo nível!

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João Félix
há um dia
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Que matéria incrível. Parabéns. Não conhecia o site e me mandaram, vou passar a acompanhar atento.

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